segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Guru Yoga a devoção ao Lama.

O objetivo da prática do Dharma é atingir a iluminação.
Realmente, atingir a iluminação é exatamente o mesmo que nos libertarmos da ignorância, e a raiz da ignorância é o ego.
Qualquer que seja o caminho que tomemos, seja uma rota longa e disciplinada, seja curta e selvagem, em seu fim o ponto essencial é que eliminemos o ego.
Entretanto, já que temos estado com nosso ego por tantas vidas e estamos tão familiares com ele, cada vez que tomamos um caminho em nossos esforços para eliminar o ego, esse mesmo caminho é seqüestrado pelo ego e manipulado de tal modo que, ao invés de o esmagar, nosso caminho apenas ajuda a reforçá-lo.
Esta é a razão pela qual, no Vajrayana, a devoção ao Lama ou Guru Yoga é ensinada como uma prática vital e essencial.
Como o Lama é um ser vivo, que respira, ele ou ela é capaz de lidar diretamente com o seu ego.
Ler um livro sobre como eliminar o ego pode ser interessante, mas você nunca terá intimidade por esse livro e, de qualquer modo, os livros estão inteiramente abertos para a sua própria interpretação.
Um livro não pode falar ou reagir a você, enquanto o Lama pode e irá agitar o seu ego para que eventualmente ele seja eliminado completamente.
Se é isto atingido irada ou gentilmente, não importa, mas no fim é para isto que Lama está lá e é por isto que a devoção ao lama é tão importante.
Para um aluno que tem uma devoção verdadeira, o Lama é a corporificação de todas as fontes de refúgio e a devoção pelo Lama é a essência de todos os caminhos.
O Lama Jamyang Gyaltsen, um grande mestre sakyapa, disse que "O Lama é a corporificação de todo refúgio", significando que quando tomamos refúgio, vemos o Lama presente em todas as Três Jóias: a presença física do Lama é vista como a Sangha, o ensinamento do Lama é visto como o Dharma e a mente do Lama é vista com o Buddha.
O Guru Yoga é o método mais rápido e mais efetivo para se atingir a iluminação e é o caminho único no qual todos os caminhos estão completos.
O Guru Yoga inclui a renúncia, a bodhichitta, a meditação de desenvolvimento (kyerim) e de completude (dzogrim) e o treinamento da mente (lojong), e é por isso que podemos dizer que o Guru Yoga é a corporificação, ou a essência, de todos os caminhos.
É a chave para todos eles, o método especial que pode levar um praticante através dos estágios do caminho do bodhisattva e dos diferentes yanas.
Outros caminhos podem levá-lo a um certo nível, mas não completos.
O Guru Yoga é não apenas o caminho completo, mas também o mais condensado.
A fim de praticar o Guru Yoga, primeiro devemos aprender como ver o nosso Lama como o Buddha.
Em nossas vidas cotidianas, mesmo que tenhamos um Lama, tendemos a procurar pela solução de nossos problemas em outros lugares.
Em um outro nível, quando estamos doentes nós "tomamos refúgio" em um médico, ou se está chovendo nós "tomamos refúgio" em um guarda-chuva.
Do mesmo modo, em um nível interno, se tivermos problemas com dinheiro, podemos tentar resolvê-los com a prática de Dzambhala; se encaramos obstáculos e dificuldades, podemos invocar a ajuda de Mahakala; ou se não tivermos sabedoria, podemos rezar para Manjushri.
Isto mostra o quão fraca é a nossa devoção, pois para o que quer que esteja faltando, precisamos apenas olhar para uma fonte de ajuda e guia: o Lama.
O primeiro estágio da devoção ao Lama, então, é despertar e aumentar nossa devoção, até que ela se torne sonora e forte, e que possamos realmente olhar para o Lama como o Buddha.
Gradualmente alcançaremos o segundo estágio, onde não simplesmente pensamos que o Lama é o Buddha; nós vemos que ele é o Buddha.
Conforme nossa devoção torna-se mais forte, é com um sentido crescente de alegria que começamos a confiar inteiramente no Lama para tudo.
Surge uma confiança interior, uma certeza absoluta de que o Lama é a única fonte de refúgio. Não temos mais que criar ou fabricar nossa devoção, agora ela vem bem naturalmente.
Então todas as nossas experiências, boas e ruins, tornam-se manifestações do Lama.
Tudo que experienciamos na vida torna-se benéfica e tem um objetivo; tudo que encontramos torna-se um ensinamento.
A confiança e devoção totais pelo lama são nascidas dentro de nosso coração, e a bênção do Lama dissolve-se em nossa mente.
Com isto, alcançamos o terceiro estágio, que é quando realizamos que nossa mente não é outra que o Lama, que vimos como sendo o Buddha.
Finalmente planejamos fundir nossa mente com a mente do Lama, o que nos leva além de todos os nossos hábitos de exagero e de baixa estima, e nos livra de todos os tipos de expectativa e de medo.
Nossa devoção, finalmente, não é criada ou fabricada, mas sim uma devoção verdadeira, e uma vez tendo a atingido, realizaremos a meta última de toda a prática buddhista.
Dilgo Khyentse Rinpoche

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Brahma a Buddha

De acordo com o Cânone em Pali, não muito tempo depois que o Senhor Buda alcançou a iluminação, pensou para si mesmo:
Segue um trecho do sutra Ariyapariyesana, quando Buda fica em dúvida se deve ensinar o que descobriu. Brahma, então, intervém:
“Eu pensei: ‘Este Dhamma que eu alcancei é profundo, difícil de ver e difícil de compreender, pacífico e sublime, que não pode ser alcançado através do mero raciocínio, ele é sutil, para ser experimentado pelos sábios.
Mas, esta população se delicia com a adesão, está excitada com a adesão, desfruta da adesão.
É difícil para uma população como esta ver esta verdade, isto é, a condicionalidade isto/aquilo e a origem dependente.
E também é difícil de ver esta verdade, isto é, o cessar de todas as formações, o abandono de todas aquisições, o fim do desejo, desapego, cessação, Nibbana.
Se eu fosse ensinar o Dhamma, os outros não me entenderiam e isso seria fatigante, problemático para mim ."
Então, estes versos nunca antes ouvidos, me ocorreram:
‘Basta com a idéia de ensinar o Dhamma
que até para mim foi difícil alcançar;
pois ele nunca será entendido
por aqueles que vivem com a cobiça e a raiva.
Aqueles tingidos pela cobiça, envoltos na escuridão
nunca irão discernir este Dhamma difícil de ser compreendido
que vai contra a torrente do mundo,
sutil, profundo e difícil de ser visto.’
Pensando dessa forma, minha mente tendia à inação ao invés do ensino do Dhamma.
“Então, bhikkhus, o Brahma Sahampati, soube com a mente dele o pensamento na minha mente e pensou: ‘O mundo estará perdido, o mundo estará destruído, já que a mente do Tathagata, um arahant, perfeitamente iluminado, se inclina à inação ao invés do ensino do Dhamma.’
Então, com a mesma rapidez com que um homem forte pode estender o seu braço flexionado ou flexionar o seu braço estendido, Brahma Sahampati desapareceu do mundo de Brahma e apareceu na minha frente.
Ele arrumou o seu manto externo sobre o ombro e juntou as mãos numa reverenciosa saudação, dizendo: ‘Venerável senhor, que o Abençoado ensine o Dhamma, que o Iluminado ensine o Dhamma. Há seres com pouca poeira sobre os olhos que estão decaindo por não ouvir o Dhamma. Há aqueles que entenderão o Dhamma.’ Depois de dizer isso, Brahma Sahampati disse ainda mais:
‘Em Magadha surgiram até agora ensinamentos contaminados formulados por aqueles que ainda estão poluídos.
Abram as portas para o Imortal! Que eles ouçam o Dhamma que o Imaculado encontrou.
Tal como alguém que esteja no pico de uma montanha
é capaz de ver todas as pessoas embaixo,
da mesma forma, Oh sábio, sábio que tudo vê,
suba ao palácio do Dhamma.
Que o Conquistador da Tristeza inspecione esta raça humana,
engolfada na tristeza, subjugada pelo nascimento e envelhecimento.
Levante-se, Oh herói, vitorioso na batalha!
Oh líder da caravana, sem dívidas, saia pelo mundo.
Ensine o Dhamma, Oh Abençoado:
Existem aqueles que irão compreender.’
Então, tendo ouvido o pedido de Brahma e por compaixão pelos seres, inspecionei o mundo com o olho de um Buda. Inspecionando o mundo com o olho de um Buda, eu vi seres com pouca poeira sobre os olhos e com muita poeira sobre os olhos, com faculdades aguçadas e com faculdades embotadas, com boas qualidades e com más qualidades, fáceis de serem ensinados e difíceis de serem ensinados e alguns que permaneciam sentindo medo e responsabilidade pelo outro mundo.
Tal como num lago com flores de lótus azuis ou vermelhas ou brancas, algumas flores de lótus nascem e crescem na água e prosperam imersas na água sem sair fora da água, enquanto que algumas outras flores de lótus nascem e crescem na água e pousam sobre a superfície da água, e ainda, algumas outras flores de lótus nascem e crescem na água e sobem acima do nível da água permanecendo sem serem molhadas pela água; assim também, inspecionando o mundo com o olho de um Buda, eu vi seres com pouca poeira sobre os olhos e com muita poeira sobre os olhos, com faculdades aguçadas e com faculdades embotadas, com boas qualidades e com más qualidades, fáceis de serem ensinados e difíceis de serem ensinados e alguns que permaneciam sentindo medo e responsabilidade pelo outro mundo. Então respondi ao Brahma Sahampati em versos:
Para eles estão abertas as portas para o Imortal,
que aqueles com ouvidos mostrem agora a sua fé.
Pensando que seria problemático, Oh Brahma,
eu não quis falar o Dhamma sutil e sublime.’
Então o Brahma Sahampati pensou: ‘Eu criei a oportunidade para que o Abençoado ensine o Dhamma.’ E depois de me homenagear, mantendo-me à sua direita, ele então desapareceu.
Ariyapariyesana Sutta

domingo, 11 de outubro de 2015

Sufi

Para o Sufi só existe um único e mesmo Mestre, qualquer que tenha sido o nome que lhe foi dado nas diversas épocas da historia.
O Mensageiro é enviado para despertar a humanidade do sono desta vida de ilusões, guiando o homem até que ele fique sob a protecçao divina.
À proporção que o Sufi progride mantendo esse ponto de vista sempre diante de si, reconhece seu Mestre não só nos seres piedosos como no sábio e no tolo, no santo e no pecador.
Nunca permite que o Mestre, o único Mestre, aquele que existe, existiu e sempre existirá, desapareça de sua visão.
A fonte da verdade não esta oculta no coração de cada homem, seja ele um cristão, um maometano, um budista ou um judeu ?
Não somos todos nós parte da vida que chamamos espiritual ou divina ?
Se apenas, isto ou aquilo é o mesmo que não passarmos. disto ou daquilo, é nos limitarmos.
A bem-aventurança encontrada na solidão esta oculta dentro de cada ser humano.
O homem herdou a bem-aventurança do Pai Celestial.
Na terminologia mística é chamada de Luz Toda-Penetrante.
A luz é a fonte e a origem da alma e da mente do homem.
O Sufi considera tudo que é vida é uma só vida.
Considera todas as religiões sua religião.
Se chamarem um Sufi de cristão ele procura ser um deles, se o chamarem de muçulmano sente-se como um muçulmano, se o chamarem de hindu ou judeu considera-se um deles.
Chamem o Sufi pelo nome que quiserem para ele isso não tem a mínima importância.
Um Sufi não quer ser chamado por nenhum nome, prefere não ser rotulado.
Quem o chama de Sufi ? Não é ele próprio, mas se ele não se chamar por um nome, um outro lhe dará um.
( Mestre Sufi - Inayat Khan )

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

24 aniversario de Parinirvana de Sua Santidade Dilgo Khyentse Rinpoche

Hoje, celebramos o 24 aniversario de Parinirvana de Sua Santidade Dilgo Khyentse Rinpoche, entrou em parinirvana no dia 19 do 8º mês do calendário lunar tibetano no ano de 1991 (27 de setembro de 1991).
Foi universalmente reconhecido como um dos maiores mestres Vajrayana, um eminente estudioso e poeta, bem como um professor inspirador.
Passou mais de 20 anos em retiro; composta e compilados ao longo de 25 volumes sobre filosofia e prática budista; salvo e publicado inúmeros textos sagrados, e iniciou vários projetos para preservar e disseminar o budismo tibetano tradição, cultura e ensinamentos. Mas acima de tudo, o que ele considerava mais importante foi que os ensinamentos que tinha realizado e transmitido foram postas em prática por outros.
Suas realizações e contribuições em diversas áreas parecem mais do que suficientes para ter preenchido uma vida inteira.
O professor está bem no centro do mundo do budismo tibetano. Dilgo Khyentse Rinpoche foi o arquétipo do professor espiritual. Sua jornada interna o levou para uma profundidade extraordinária de conhecimento que o habilitou a ser, para todos que o encontraram, uma fonte de bondade amorosa, sabedoria e compaixão.
Dilgo Khyentse Rinpoche foi um dos últimos da geração de lamas talentosos que completaram sua educação e formação no Tibet. Ele nasceu em 1910 no leste do Tibete a uma família descendente da linhagem real do século 9 Rei Trisong Detsen.

Quando ele ainda estava no ventre de sua mãe, ele foi reconhecido como um tulku ou encarnação pelo professor ilustre, Mipham Rinpoche, e mais tarde foi entronizado como uma emanação de Jamyang Khyentse Wangpo, um dos tertons mais importantes (revelador de tesouro) e escritores do século 19, e a principal inspiração para o movimento não-sectário.
Khyen-tse significa sabedoria e amor. O tulkus Khyentse são encarnações de várias figuras-chave no desenvolvimento do budismo tibetano incluindo Kunkyen Longchenpa, Jigme Lingpa e Vimalamitra.
No final dos anos 1950, com a invasão chinesa do Tibet em Kham, Khyentse Rinpoche e sua família fugiu por um triz para o Tibet Central, deixando tudo para trás, incluindo livros preciosos e mais de seus próprios escritos de Rinpoche. Centenas de milhares de tibetanos, incluindo sua esposa, Khandro Lhamo, e suas duas filhas foram obrigados a fugir de sua terra natal. Eles procuraram exílio no Butão, onde a família real butanesa graciosamente o recebeu. Anos depois ele pediu ao governo chinês autorização para restaurar Samye Monastéiro salientando a sua importância para o patrimônio cultural do mundo. Fundada no século 8, Samye foi o primeiro mosteiro budista no Tibet e em 1990 o seu principal templo tinha sido restaurado.
Onde quer que fosse no Tibet, ele era recebido com grande alegria e emoção por pessoas que haviam esperado anos para vê-lo novamente. Erudito, sábio e poeta, Dilgo Khyentse Rinpoche nunca deixou de inspirar todos os que o encontraram através de sua extraordinária presença, simplicidade, dignidade e humor.
Na idade de 81, ele faleceu no Butão. Sua cremação foi assistido por mais de cinquenta mil pessoas, entre professores e discípulos de todo o mundo
Depoimentos
Dalai Lama:
Não tenho dúvida de que Kyabje Dilgo Khyentse Rinpoche está entre os mestres budistas mais realizados que encontrei; ainda assim ele irradiava todo o calor e as qualidades contagiantes de um genuíno e completo bom ser humano
Dzongsar Khyentse Rinpoche:
Sem seu exemplo, as histórias de vida dos grandes mestres do passado seriam muito menos dignas de crédito e mais como lendas ancestrais, como Hércules realizando suas 12 grandes tarefas na mitologia grega. Embora eu tenha testemunhado suas atividades com meus próprios olhos, quando relembro, também encontro muitas coisas difíceis de acreditar.
Sogyal Rinpoche:
Em todos os sentidos, havia algo de universal, até sobre-humano nele, tanto que numa época os jovens lamas reencarnados, que ele cuidava com um carinho e cuidado infinitos, brincavam chamando-o de “Sr. Universo”.
Shechen Rabjam Rinpoche:
Penso que Khyentse Rinpoche foi um dos exemplos mais finos do mestre espiritual perfeito. Ele era, na verdade, um mestre dos mestres; a maioria dos professores tibetanos do século 20 recebeu ensinamentos dele.
Durante os 20 anos que passei com Khyentse Rinpoche, nunca testemunhei ele ficando ou muito deprimido ou extremamente excitado; seu humor era sempre equilibrado.
Ele sublinhava que após anos de prática, a medida de nosso progresso deve ser o ganho de um senso de paz interior, tornando-nos menos vulneráveis a circunstâncias externas.
Embora não possamos encontrar mais Khyentse Rinpoche, quando alguém lê seus ensinamentos ou escritos, pode experimentar a profundidade de sua sabedoria e compaixão.
Orgyen Tobgyal Rinpoche:
Mesmo em idade avançada, ele ainda requisitava ensinamentos de qualquer um que possuísse uma tradição que ele ainda não tinha recebido, e às vezes até se engajava em novos estudos. Com frequência escutavam ele dizer: “Eu mesmo não sou instruído, mas gosto do fato de que outras pessoas são chamadas de instruídas”.