quarta-feira, 19 de março de 2008

Huberto Rohden - Conversa Evangelho Gnóstico de Tomé

O homem profano vive numa permanente embriaguez das coisas do ego material-mental-emocional.
E por isto não tem sede das coisas espirituais do Eu.
São cegos para a Verdade, porque só enxergam as ilusões.
Todo o homem entra neste mundo sem nada, mas não deve sair do mundo sem nada.
A razão-de-ser da nossa encarnação terrestre é adquirirmos algo que não nos foi dado, crearmo-nos mais do que Deus nos creou.
De Deus recebemos a nossa alma como carta branca; mas não lhe podemos devolver como carta branca.
Se devolvermos a Deus o que de Deus recebemos, seremos iguais àquele "servo mau e preguiçoso" da parábola dos talentos, que devolveu o mesmo talento que recebera.

A nossa missão terrestre é realizarmos pelo poder creativo do livre arbítrio valores que Deus não nos deu, mas para cuja creação nos deu potencialidade creativa.
O homem deve atualizar as suas potencialidades creadoras; isto é ser "servo bom e fiel e entrar no gozo do seu Senhor".
Quanto ao corpo, sim, sairemos do mundo assim como no mundo entramos, sem nada.
O corpo nos foi emprestado como embalagem pêlos nossos pais e pela natureza. Devolveremos à natureza o que da natureza recebemos.
Mas temos de restituir a Deus o que de Deus recebemos mais aquilo que creamos com o nosso livre arbítrio, porque o homem não é apenas uma creatura creada, como os animais, mas uma creatura creadora.

Quem pode, deve; e quem pode e deve e não faz, crea débito, e todo débito gera sofrimento. O homem é uma creatura potencialmente creadora, e seu dever é fazer-se uma creatura atualmente creadora. É esta a grande Verdade insinuada pelas palavras de Jesus, o Cristo.

Já no início da Era Cristã, lamentava o grande Orígenes, de Alexandria, que muitos falassem do Cristo e poucos se cristificam.
Muitos sabem que existe uma fonte de águas vivas, poucos bebem dessa água. Este mesmo fenômeno, aliás, se repete no mundo inteiro: quase toda a Ásia conhece a sabedoria de Buda, de Krishna, de Lao-Tse: muitos admiram as "quatro verdades nobres", a Bhagavad Gita, o Tao Te King, e poucos descem à profundeza dessas fontes de sabedoria vivenciando-a.

Quase todo o ocidente, europeu e americano, se diz cristão: muitos lêem os Evangelhos, fazem sermões, conferências e escrevem poesias sobre os ensinamentos de Jesus, mas quantos orientam a sua vida pelas grandes verdades do Cristo?

O Evangelho, como se vê, é puro auto-conhecimento, que culmina em auto-realização. Todos os grandes Mestres da humanidade, do Oriente e do Ocidente, são unânimes em pôr o auto-conhecimento acima de qualquer alo-conhecimento.

O homem deve iniciar a sua verdadeira realização, o Reino de Deus. Interno e externo, aqui e agora, harmonizando a sua consciência mística e sua vivência ética com a Divindade.
Quem só conhece o Universo, mas ignora a si mesmo, conhece muitos nadas: mas quem se conhece a si mesmo, conhece sua alma, que é também a alma do Universo.
O homem e o cosmos são concêntricos, o centro de ambos é Deus. Realizar-se é conscientizar Deus em si mesmo e conscientizar Deus no Universo. Realizar-se é Universificar-se.

O homem intelectual, escreve Einstein, descobre aquilo que é, mas o homem espiritual realiza em si aquilo que deve ser, aquele é um descobridor de fatos, este é um creador de valores. Valor é Realidade eterna, fatos são reflexos passageiros. Do substantivo latino factum veio o adjetivo facticium, que mais tarde deu ficticium; quer dizer que os fatos são fictícios e não reais.

"O cristianismo é uma afirmação do mundo que passou pela negação do mundo".
Albert Schweitzer

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