"Deus" no banco dos réus
Demiurgo: Para os Gnósticos, esta entidade seria o "deus" do Antigo Testamento da Bíblia. Este ente tem a arrogância típica dos que se acham onipotentes. Criador de tudo que conhecemos, acha que todos devem curvar-se a sua vontade: "Não terás outros deuses diante de mim".
No mito Gnóstico (Hoje a palavra mito, significa alguma coisa inveridica, irreal ou ficticia. Entretanto ela deriva do vocábulo grego mythos, que em seu uso original significa uma explicação da realidade que lhe confere significado) o Demiurgo foi gerado pelo Aeon Sophia após sua queda. Ao ser gerado, criou o mundo material com o objetivo de governar e aprisionar na matéria as partículas divinas provenientes do Inefável.
Querendo libertar as almas aprisionadas ao mundo material, Sophia rebela-se contra o Demiurgo, o Verdadeiro Deus Inefável envia aos homens o seu filho mais querido, o Aeon Christós ou Cristo que desce ao mundo material com o objetivo de transmitir a "Gnosis" (conhecimento) às almas para que elas tenham consciência de sua identidade divina e partam para o Pleroma libertando-se do jugo e da escravidão do Demiurgo.
Com o objetivo de impedir que isso ocorra, o Demiurgo cria inúmeras ilusões e prazeres materiais efêmeros para afastar as Almas de sua legítima parcela divina, de modo que estas estejam presas e sejam escravas do mundo material. O Demiurgo é o governante desta pequena Esfera de Vida onde reina absoluto. O Demiurgo possui vários nomes: Samael (deus cego), Yaldabaoth(criança do Caos), e outros...
O Mito:
De Sophia, a mãe celestial de todas as coisas vivas, nasceu aquele que tornaria o formador e regente do sistema de criação. Ela sentiu grande tristeza e angustia quando o gerou, pois estava sozinha em um abismo de trevas e sua luz tinha diminuído. Sophia viu que seu descendente era capaz de mudar de forma. Ela se arrependeu de ter gerado um ser em sua solidão e o chamou Yaldabaoth, a “Ignorância-cega”.
Yaldabaoth foi para o caos e elaborou um sistema de criação que era de seu agrado. O criador (Yaldabaoth) e sua hoste (os regentes) mesclaram, então, luz e trevas, para que as trevas parecessem radiantes e, assim, iludissem os olhos. Essa mescla de trevas e luz resultou num mundo imperfeito e fraco, pois as trevas impediram-no de desenvolver um exército de luz, que poderia protege-lo.
Assim, Yaldabaoth permaneceu no centro do sistema do mundo que ele formara, e se tornou arrogante em seu orgulho, exclamando: “Eu sou Deus e não há outro Deus além de mim!”
Dessa forma, ele demonstrou sua ignorância agora do verdadeiro caráter do ser, bem como seu orgulho, pois negou até sua própria mãe. Sophia, no entanto, olhou para ele das alturas e exclamou em voz alta: “proferistes uma falsidade ó Samael!” Foi assim que ele recebeu o nome que o tornara o senhor cego da morte (Samael), e então Sophia o chamou também de Saclas, com o que afirmava a tolice dele.
Sophia, porém, sabendo que sua descendência gerara uma criação a partir de sua própria imagem defeituosa, decidiu ajudar secretamente a luz que estava presente no mundo. Desceu de sua habitação e veio para perto da terra, movendo-se de lá para cá sobre ela, assim outorgando sua sabedoria e amor ao sistema que o tolo criador desenvolvera. Os regentes pensaram que eles, sozinhos, tinham criado e ordenado o mundo, mas o espírito de Sophia contribuiu secretamente para colocar esplêndidos padrões arquetípicos na trama do trabalho deles.
Então uma grande maravilha apareceu nos céus: a forma de um homem, de visão majestosa e gloriosa. O criador Yaldabaoth e sua hoste tremeram e as bases do abismo sacudiram-se e as águas agitaram-se em terror sobre a terra. Tão grande era o brilho do arquétipo humano celestial que apareceu no céu que os regentes foram por ele cegados e não puderam agüentar seu poder. Desviaram os olhos e fixaram o reflexo da forma do homem, conforme essa aparecia nas águas abaixo. Todos os regentes e seus servos correram para perto e, juntando seus poderes, fizeram uma réplica da imagem do homem celestial; mas seu trabalho era defeituoso e fraco, porque a força de Sophia não estava na sua criação. O homem falsificado era estúpido e insensato e se arrastava pela terra como um verme. Sophia, então, enviou vários mensageiros da luz e eles, secretamente, penetraram na mente de Yaldabaoth, fazendo-o respirar sobre a lamentável criatura, desse modo infundindo-lhe vida.
Aquele que criara pensou que era ele quem tinha dotado os homens de vida, mas, na realidade, foi sua mãe Sophia quem deu à humanidade a verdadeira vida. E o homem ficou de pé, caminhou e foi circundado por uma luz não terrestre. Yaldabaoth e sua hoste reconheceram que o homem era, de fato, um ser cujo poder espiritual e inteligência excediam o seu próprio. Cheios de inveja e raiva, eles atacaram o homem cujo nome era Adão e o lançaram na escura região da matéria, para lá definhar em tristeza e privação.
Sophia, entretanto, em cooperação com os mais altos poderes da plenitude, enviou a Adão um auxiliar, para instruí-lo e assisti-lo com sabedoria e força espiritual. Esse auxiliar era uma mulher, conhecida como Eva, mas cujo verdadeiro nome é Zoe, que significa vida (a filha de Pistis-Sophia). O sábio espírito feminino penetrou em Adão e ficou escondido aí, para que os regentes não percebessem a sua presença.Os regentes, então, conspiraram e elaboraram um plano no qual esperavam que o homem poderia cair, e permanecer cativo de seus desígnios.
Eles criaram um jardim, cheio de belezas e delícias da terra, e colocaram Adão no meio dele, fornecendo-lhe todo o tipo de objeto agradável que pudesse desejar. Então eles mandaram Adão comer, pois o alimento do jardim é amargo e sua beleza é perversão, sua delícia é engano e suas árvores são iniquidade, seu fruto é veneno incurável e sua promessa é morte. As belezas e os prazeres oferecidos eram enganosos, corruptos e planejados para mantê-lo cativo dos regentes, sem vontade ou vida própria.
Também colocaram uma árvore no jardim, contendo a vida deles, e proibiram Adão de tocar ou de comer do seu fruto. Eles o enganaram a respeito da árvore, lhe dizendo que sua raiz é amarga e seus ramos são morte, sua sombra é ódio e em sua folhagem está o engano, seu suco é o ungüento da perversidade, seu fruto é mortal e sua seiva é a cobiça; e que ela germina das trevas.
Mas essa árvore é a inteligência-luz. E dizendo tais coisas sobre ela, eles impediram Adão de ver sua plenitude e conhecer a Verdade, fazendo-o ficar preso naquilo que era realmente ruim, e os regentes diziam a Adão ser bom.
Mais uma vez Sophia e os poderes celestiais (na forma de uma serpente) foram em socorro de Adão e o instruíram a comer o fruto daquela árvore e desafiar o regente e seus anjos tirânicos. Ao mesmo tempo, a mulher nasceu de Adão, mas o chefe dos regentes a reconheceu como tendo a luz de Sophia e enfureceu-se. Ele a perseguiu por todo o jardim e, tendo a subjugado, violentou-a e ela concebeu dois filhos dele, Caim e Abel.
Caim tornou-se mestre da terra e da água e dele descendem os homens e mulheres com inclinação para a matéria, ao passo que Abel comandou o ar e o fogo e se tornou o pai dos seres humanos que valorizam a alma e a mente.
Adão, no entanto, percebeu o que o regente tirânico tinha feito e subseqüentemente gerou um filho com o nome de Seth, com inclinação para o espírito, e que se tornou pai daqueles que aspiram pela Gnose e por uma união com espírito.
Os anjos tirânicos, então, observaram, enfurecidos, que a humanidade seguia seu curso e não iria permanecer no paraíso dos tolos, onde aquele que criara queria mantê-los cativos. O chefe dos regentes amaldiçoou especialmente a mulher, que veio a ser a mãe da humanidade e seu destino, bem como o de suas filhas, tem sido difícil desde então.
Entretanto, Eva deu à luz uma filha, chamada Norea, plena de verdadeira Gnose, e que permaneceu na terra por muito tempo como uma ajudante da humanidade, porque era sábia e conhecia os esquemas e más obras dos anjos tirânicos.
Enquanto isso, os homens se multiplicaram, instruídos por Seth e Norea, muitos voltaram à Gnose, assim, os regentes ficaram com poucos homens e mulheres que os aceitavam como divinos e seguiam suas leis. Furiosos, então, desejaram destruir a humanidade, então resolveram provocar um dilúvio. Norea, vendo o que eles iam fazer, instruiu um de seus filhos, Noé, para que ele construísse uma arca onde todos os puros pudessem ser salvos. Então ele, instruído por sua mãe, assim o fez.Os anjos maus, então, assaltaram Norea, desejando violá-la com tinham feito com Eva, sua mãe, mas um grande anjo de luz chamado Eleleth a resgatou e lhe deu forças para continuar sua missão. Assim, com a ajuda de Norea, a partir de seu filho Noé, o esquema dos anjos tirânicos foi frustrado.
Desde então a humanidade tem vivido em conflito e divisão, pois o chefe dos regentes nela semeou cólera. A verdadeira Gnose tornou-se rara e os filhos dos homens aprenderam coisas inúteis e mortas, seu conhecimento tornou-se mundano e corrupto. Mesmo assim a raça humana nunca foi deixada em abandono. Repetidamente os regentes se reuniram e planejaram destruir aqueles seres humanos que não queriam servi-los.
Queriam corromper a raça humana, mesclando sua essência com a humanidade, e assim o fizeram, corrompendo mulheres humanas, fazendo-as ter filhos deles e não do Divino. Devido à multiplicação dos planos perversos e às depredações dos regentes, uma parte da humanidade está contaminada por sua semente, embora todos os homens e mulheres possuam também, a luz de Sophia.
Os regentes são os verdadeiros tiranos. Seu mais profundo desejo é subjugar e reinar sobre a humanidade. Por isso os regentes estão sempre trabalhando, elaborando leis e mandamentos, como os quais possam constranger os filhos dos homens. Mascaram-se como mensageiros da luz, ou mesmo como o próprio Divino, exigindo obediência e adoração. Assim eles iludiram muitos profetas e videntes bem-intencionados.
Porém Sophia nunca deixa de lutar por seus filhos. Eis a visão gnóstica de que o deus criador é um deus inferior e arrogante que tentou copiar para si os mundos celestes e que o paraiso de Adão e Eva é na verdade o paraiso dos sentidos, feito para prendê-los e fazer com que esqueçam sua origem, mas eva, isto é, o aspecto feminino do ser humano (o espirito), mostra à adão (a mente) como se libertar, comendo do fruto da gnosis.
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