terça-feira, 20 de março de 2012

GNOSIS


As Escolas de Mistérios existiram até na época de Jesus. Algumas se encontravam em Eleusis e em Delfos, na Grécia, onde Orfeu e Apolo eram venerados como guardiães dos Mistérios.

Na Pérsia, elas ensinavam a sabedoria de Zoroastro; no Egito e na Ásia Menor, elas se baseavam no ensinamento de Atis ou Osíris.

O Antigo Testamento refere-sea elas em textos que falam dos Nazarenos, homens consagrados a Deus, como Sansão e Gedeão.

As pesquisas atuais provam que os profetas conheceram estas Escolas dos Mistérios, pois eles sempre estavam ensinando que os rituais exteriores representavam processos internos que conduzem à ligação entre o homem e Deus.

Nesta época, sabia-se que, se o homem quisesse unir-se a Deus, deveria ultrapassar o ponto mais baixo da materialidade.

Os que já eram iniciados recebiam o conhecimento encerrado nos Mistérios.

Neste processo, os mediadores estavam em ligação consciente com as forças divinas e suas leis e viviam através delas. Portanto, é de interesse secundário saber quais eram os símbolos
utilizados para transmitir este conhecimento.

Até a vinda do Mestre Jesus, o Cristo, estes Mistérios foram mantidos em segredo.

Mestre Jesus mostra claramente, àqueles que o ouvem, que a natureza terrestre pode ser anulada por um processo consciente, no decorrer do qual acontece o despertar e o crescimento do “Deus em mim”.

“Quem quiser perder sua vida por mim” (por amor ao Espírito divino) “a ganhará”.

A vida do Mestre Jesus dá testemunho do processo que, até esta época, só poderia ser cumprido entre as paredes de uma Escola de Mistérios.

Em seus pensamentos, seus sentimentos e sua vontade, ele renunciou a seu egocentrismo para que o filho de Deus florescesse dentro dele.

A humanidade havia chegado ao ponto em que os Mistérios deviam ser revelados para garantir seu progresso espiritual.

Tornou-se possível vivenciar o processo da morte e da ressurreição interiores de modo autônomo e responsável.

Isto significa que, há cerca de 2.000 anos, o despertar do verdadeiro ser podia tornar-se um processo consciente.

Portanto, os Mistérios estavam abertos a todos e já não eram reservados exclusivamente a um pequeno grupo de eleitos, iniciados, por assim dizer, exteriormente.

A iniciação tornava-se um processo interior que era preciso ser vivido com plena consciência.

Mestre Jesus revelava o conhecimento oculto; e este conhecimento, a Gnosis, surgiu como uma corrente historicamente visível nas regiões à volta do Mediterrâneo.

Sempre nos perguntamos como a Gnosis surgiu tão de repente, pois parece que ela veio ao mundo como que saída do nada, sem preparação, e já completamente adulta.

Ela carregava em si traços de todas as culturas e tradições do tempo. Mas qual era sua origem? A Pérsia, Israel, a Grécia, o Egito?

Daí para a frente, as Escolas de Mistérios, que jamais deixaram de seguir o mesmo objetivo, podiam revelar abertamente sua doutrina, e a sabedoria gnóstica foi transmitida quase simultaneamente, sob formas bem diversas, entre os judeus, os gregos e os persas.

Qual forma prevaleceu? Isto não tem a menor importância, pois destes locais sagrados irradiou-se uma poderosa corrente universal de força gnóstica que veio sustentar a sabedoria que já havia
sido divulgada.

Muitos se indagaram por que tantos grupos gnósticos falavam de salvadores do mundo diferentes de Jesus, agora que Jesus era considerado “o Salvador”, a força salvadora.

Em alguns manuscritos de Nag Hammadi, os salvadores têm nomes egípcios e persas, enquanto outros mencionam Mestre Jesus.

Os Hierofantes dos Mistérios que abriram suas portas na época de Jesus
sabiam que a sabedoria estava manifestada nele e que começava uma nova fase do caminho que conduz à meta final, mas alguns ainda utilizavam nomes dos salvadores originais de períodos anteriores.

Por exemplo, alguns escritos de Nag Hammadi falam de Set, filho de Adão.

Outros adaptaram seus ensinamentos ao novo período e introduziram o nome do Mestre Jesus, o Cristo.

Mas será que é tão importante saber o nome dado à força libertadora,
para quem quer percorrer o caminho e tornar-se o verdadeiro Homem?

Não é verdade que é ao Homem original que estes escritos estão-se referindo?

Também fica claro porque os escritos gnósticos sempre mostram a libertação como parte de um grande processo cósmico.

Quando se trata da salvação no Novo Testamento, pouco se menciona a criação do mundo e o papel da humanidade neste processo, e não há alusão a respeito da humanidade anterior à
queda, nem sobre a possibilidade de uma volta a esta humanidade.

O Novo Testamento se limita em falar sobre a libertação em si enquanto a sabedoria tradicional judaica, grega e egípcia demonstra claramente as relações cósmicas deste processo.

É por isso que todos os sistemas gnósticos propõem mitos que explicam o nascimento do mundo espiritual, a criação do mundo terrestre, as hierarquias espirituais dos anjos e arcontes que
governavam o mundo.

Diz-se que o conceito “Gnosis” procedia de características psíquicas e espirituais do tipo humano mediterrâneo de cerca de 2.000 anos atrás.

Este homem vivenciava, então, uma espécie de vazio, pois todos os valores espirituais e tradicionais estavam virando ruínas.

Todas as certezas estavam-se desfazendo.

As estruturas sociais, as normas e os valores gerais já não ofereciam nenhum apoio.
A humanidade estava enfrentando um caos indescritível.

Neste sentido, é evidente o paralelo com nossa época.


Pensou-se que, para preencher este vazio, alguns imaginaram uma série de certezas e de processos sobrenaturais no interior dos quais seria possível alguém se retirar a fim de poder, ao menos, continuar a existir.

Segundo esta teoria, os sistemas gnósticos não passam de reações ao ambiente e à natureza, e não possuem nenhum valor objetivo.

Mas, de acordo com escritos gnósticos autênticos, mostra-se, entretanto, que as experiências de seus autores não dependem de modo algum das circunstâncias sociais ou outras.

São experiências interiores que somente podem ser vivenciadas quando o princípio espiritual latente no ser humano está despertado e lhe mostra a instabilidade e a impiedade do mundo.

Assim, não é importante se o mundo está bonito ou caótico.

Pode acontecer, porém, que estas experiências somente possam realizar-se quando todos os sistemas antigos se desfazem e quando o ser humano se encontra em total confusão.

Não podemos marcar as experiências gnósticas com uma etiqueta histórica, psicológica ou cultural.

Também não se trata de colocar a Gnosis na lista dos produtos da sabedoria tradicional.

A Gnosis sempre será uma experiência direta da Luz divina.

Se quisermos ligar novamente a Sabedoria dos Mistérios ao desenvolvimento da História, podemos somente dizer que os antigos símbolos servem para representar processos que se manifestam.

Os locais sagrados servem, por assim dizer, de vestes para a sabedoria.

Esta sabedoria carregada de força libertadora impulsiona o gnóstico a seguir o caminho indicado dentro de seu próprio ser interior, para aí buscar a libertação de sua alma.

Se quisermos estudar a origem e o significado do conceito “Gnosis”, será preciso perguntar de onde provém a Sabedoria original das Escolas dos Mistérios de todos os tempos.

Os biólogos sempre gostam de explicar que a origem da vida vem de outro planeta. Mas isto somente desloca esta origem, sem explicá-la.

O mesmo acontece com a origem da Gnosis. As experiências gnósticas dizem respeito à vivência individual de uma ligação direta com Deus. Estas experiências estão fora do tempo, fora da
História, fora dos modelos culturais. Não são nem especulações, nem invenções arbitrárias.

Elas tratam do ser verdadeiro dentro do homem, da realidade do mundo de onde provém o homem interior e do que é característico da Gnosis, do caminho que é preciso ser vivenciado para voltar ao mundo original.

Trata-se de uma verdade universal.

Esta se manifestou aos mestres e a seus alunos.

Ela se manifestou a Jesus, o Cristo, que a ensinou publicamente.

Suas experiências são confirmações das experiências dos gnósticos.


Muitos deles foram seus discípulos, e outros, os discípulos de períodos mais recentes.

Todos deram testemunho da mesma coisa porque vivenciaram o mesmo processo dentro de suas almas.

Assim, pode-se dizer que a Gnosis se manifesta com toda a certeza em momentos precisos da História da humanidade; e que, no momento em que os homens estiverem maduros o bastante para
receber este conhecimento direto, os instrutores da Gnosis aparecerão.

É o que acontece em nossos dias, quando inúmeros buscadores podem encontrar dentro de si mesmos a senda que conduz à Gnosis.

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