quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Brahma a Buddha

De acordo com o Cânone em Pali, não muito tempo depois que o Senhor Buda alcançou a iluminação, pensou para si mesmo:
Segue um trecho do sutra Ariyapariyesana, quando Buda fica em dúvida se deve ensinar o que descobriu. Brahma, então, intervém:
“Eu pensei: ‘Este Dhamma que eu alcancei é profundo, difícil de ver e difícil de compreender, pacífico e sublime, que não pode ser alcançado através do mero raciocínio, ele é sutil, para ser experimentado pelos sábios.
Mas, esta população se delicia com a adesão, está excitada com a adesão, desfruta da adesão.
É difícil para uma população como esta ver esta verdade, isto é, a condicionalidade isto/aquilo e a origem dependente.
E também é difícil de ver esta verdade, isto é, o cessar de todas as formações, o abandono de todas aquisições, o fim do desejo, desapego, cessação, Nibbana.
Se eu fosse ensinar o Dhamma, os outros não me entenderiam e isso seria fatigante, problemático para mim ."
Então, estes versos nunca antes ouvidos, me ocorreram:
‘Basta com a idéia de ensinar o Dhamma
que até para mim foi difícil alcançar;
pois ele nunca será entendido
por aqueles que vivem com a cobiça e a raiva.
Aqueles tingidos pela cobiça, envoltos na escuridão
nunca irão discernir este Dhamma difícil de ser compreendido
que vai contra a torrente do mundo,
sutil, profundo e difícil de ser visto.’
Pensando dessa forma, minha mente tendia à inação ao invés do ensino do Dhamma.
“Então, bhikkhus, o Brahma Sahampati, soube com a mente dele o pensamento na minha mente e pensou: ‘O mundo estará perdido, o mundo estará destruído, já que a mente do Tathagata, um arahant, perfeitamente iluminado, se inclina à inação ao invés do ensino do Dhamma.’
Então, com a mesma rapidez com que um homem forte pode estender o seu braço flexionado ou flexionar o seu braço estendido, Brahma Sahampati desapareceu do mundo de Brahma e apareceu na minha frente.
Ele arrumou o seu manto externo sobre o ombro e juntou as mãos numa reverenciosa saudação, dizendo: ‘Venerável senhor, que o Abençoado ensine o Dhamma, que o Iluminado ensine o Dhamma. Há seres com pouca poeira sobre os olhos que estão decaindo por não ouvir o Dhamma. Há aqueles que entenderão o Dhamma.’ Depois de dizer isso, Brahma Sahampati disse ainda mais:
‘Em Magadha surgiram até agora ensinamentos contaminados formulados por aqueles que ainda estão poluídos.
Abram as portas para o Imortal! Que eles ouçam o Dhamma que o Imaculado encontrou.
Tal como alguém que esteja no pico de uma montanha
é capaz de ver todas as pessoas embaixo,
da mesma forma, Oh sábio, sábio que tudo vê,
suba ao palácio do Dhamma.
Que o Conquistador da Tristeza inspecione esta raça humana,
engolfada na tristeza, subjugada pelo nascimento e envelhecimento.
Levante-se, Oh herói, vitorioso na batalha!
Oh líder da caravana, sem dívidas, saia pelo mundo.
Ensine o Dhamma, Oh Abençoado:
Existem aqueles que irão compreender.’
Então, tendo ouvido o pedido de Brahma e por compaixão pelos seres, inspecionei o mundo com o olho de um Buda. Inspecionando o mundo com o olho de um Buda, eu vi seres com pouca poeira sobre os olhos e com muita poeira sobre os olhos, com faculdades aguçadas e com faculdades embotadas, com boas qualidades e com más qualidades, fáceis de serem ensinados e difíceis de serem ensinados e alguns que permaneciam sentindo medo e responsabilidade pelo outro mundo.
Tal como num lago com flores de lótus azuis ou vermelhas ou brancas, algumas flores de lótus nascem e crescem na água e prosperam imersas na água sem sair fora da água, enquanto que algumas outras flores de lótus nascem e crescem na água e pousam sobre a superfície da água, e ainda, algumas outras flores de lótus nascem e crescem na água e sobem acima do nível da água permanecendo sem serem molhadas pela água; assim também, inspecionando o mundo com o olho de um Buda, eu vi seres com pouca poeira sobre os olhos e com muita poeira sobre os olhos, com faculdades aguçadas e com faculdades embotadas, com boas qualidades e com más qualidades, fáceis de serem ensinados e difíceis de serem ensinados e alguns que permaneciam sentindo medo e responsabilidade pelo outro mundo. Então respondi ao Brahma Sahampati em versos:
Para eles estão abertas as portas para o Imortal,
que aqueles com ouvidos mostrem agora a sua fé.
Pensando que seria problemático, Oh Brahma,
eu não quis falar o Dhamma sutil e sublime.’
Então o Brahma Sahampati pensou: ‘Eu criei a oportunidade para que o Abençoado ensine o Dhamma.’ E depois de me homenagear, mantendo-me à sua direita, ele então desapareceu.
Ariyapariyesana Sutta

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