segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

BOGOMILOS, Cristianismo verdadeiro

 
No século XII, vivia na Bulgária um papa chamado Bogomilo, palavra que significa "amigo de Deus".

Constatando que a Igreja e seus dignitários haviam-se distanciado demais do verdadeiro cristianismo, ele contestou as idéias religiosas que admitiam a escravidão, a servidão e a exploração de uns pelos outros.

Bogomilo pregava o cristianismo puro. Sua nova doutrina foi conhecida em toda a região dos Bálcãs e muito além dela.
Nesta parte da Europa, no século XI, uma corrente importante já era receptiva às influências gnósticas.

Isto sempre acontece em tempos e lugares que formam um solo propício para nutrir um crescimento espiritual interior, pois o ser

humano é portador de uma semente de vida latente imortal e, quando as experiências o amadureceram o bastante, ele torna-se capaz de receber o auxílio divino.

Assim, existe de um lado um impulso que toca o homem até que ele esteja pronto para escutar e aprender; e de outro, as circunstâncias que o preparam para que ele se entregue e confie em seu guia interior.

As condições de vida, geralmente assustadoras do século XI, agiam como um catalisador para o crescimento e o desabrochar deste importante movimento conhecido como "os bogomilos".

A rica e poderosa elite búlgara compreendia o clero e a nobreza. Os czares nadavam em opulência e o clero levava uma vida alegre e descuidada graças aos pobres.

As conseqüências deste tipo de exploração não tardaram a manifestar-se e, regularmente, foram explodindo revoltas no decorrer das quais inúmeros padres eram mortos e suas igrejas, devastadas. Mas os camponeses indagavam-se também cada vez mais qual seria a origem do mal e como eles poderiam libertar-se dele.

Assim, nos séculos XI e XII, os tempos já tinham amadurecido o bastante para o que se chamou "a heresia dualista" dos bogomilos. Esta heresia apresentava, de um lado, aspectos conjunturais e locais; e de outro, ela era alimentada por um rico passado gnóstico.

As doutrinas maniqueístas, principalmente, exerceram uma grande influência. O que a igreja ortodoxa taxava de heresia

correspondia, na realidade, ao renascimento do cristianismo primitivo sob a forma de um movimento gnóstico.

Os maniqueístas diziam que o mundo, com suas metades material e imaterial, era uma criação de Lúcifer, o anjo decaído.

Os bogomilos o chamavam de Satanael, onde o sufixo "el" indica sua origem divina. Em razão de sua queda, estas duas últimas letras foram suprimidas, restando-lhe o nome de Satan (Satã).

Os paulinos da Trácia exerceram sobre eles uma influência importante. Eles haviam sido exilados pelo imperador bizantino e opunham-se ao cosmopolitismo da igreja ortodoxa.

Entretanto, os bogomilos escolheram a resistência passiva.

Eles formaram comunidades agrícolas que tinham suas próprias leis, levavam uma existência retirada e sustentavam suas próprias necessidades na medida do possível.

Eram comunidades de inspiração autenticamente gnóstica.

As igrejas sempre reprovaram o fato de os gnósticos pregarem um dualismo absoluto e de identificarem o Deus criador do universo com Mamon.

Mani também foi atacado, neste sentido, e por fim foi exterminado pela casta sacerdotal da Pérsia.

Este tipo de acusações baseiam-se, na maior parte do tempo, na recusa ou na incapacidade de compreender a doutrina gnóstica.

A visão dualista dos maniqueus e dos bogomilos certamente não identificava a criação de Lúcifer com a de Deus.

Segundo as doutrinas gnósticas, há, na origem, um só Deus, que se encontra totalmente fora do espaço-tempo. É o único Bem, que preenche o Todo. Este Único Bem comporta o princípio da

liberdade absoluta, ou seja, a possibilidade, na suprema realidade divina, de desviar-se do plano divino original.

Na Bíblia, este desvio é chamado de "a queda". Logo depois da queda, o homem cortou sua ligação com a fonte original; seus poderes espirituais ficaram restritos e ele tornou-se uma entidade de matéria grosseira, um homem-animal, submetido à morte.

O mal, ou o pecado no sentido gnóstico, significa viver em desarmonia com o plano divino previsto para o mundo e para a humanidade.

A doutrina gnóstica não fala somente do monismo original e da realidade ilusória em que a humanidade se fechou, mas também da possibilidade de sair desta situação: da volta dos seres humanos aos domínios espirituais que permaneceram absolutamente puros.

É assim que se faz alusão aos domínios cósmicos ditos superiores, onde reina o princípio do "todo em um".

Desta sabedoria provém uma sentença que também é sábia: "Não combatas o mal: suporta-o!" Esta foi uma das regras de vida dos bogomilos, como ela havia sido de seus antecessores e foi a de seus sucessores gnósticos.

É preciso liberar o mal, pois ele é incapaz de salvar-se a si mesmo. O verdadeiro mal não é tanto o contraste violento entre ricos e pobres, apesar desta injustiça ser, sem nenhuma dúvida, a conseqüência do mal fundamental: a queda.

É por esta razão que os bogomilos ensinavam como atacar o mal em sua raiz: adotando um comportamento pacífico, principalmente baseado na compaixão por todas as criaturas.

Assim, eles se colocavam fora de todas as lutas, que são uma característica do "mundo da cólera" em que todos nós vivemos.

Entretanto, esta conduta provocou a agressividade do poder estabelecido, que realmente sempre seguiu demasiadamente o princípio: "dividir para reinar".

Os bogomilos exerceram sobretudo sua influência nos Bálcãs. No século XI e XII, a Bulgária, a Trácia e a Macedônia foram seus centros de ação mais importantes.

Como a Bulgária era então uma província do reino bizantino, eles puderam facilmente divulgar sua doutrina.

Os primeiros dados que possuímos sobre sua atividade provêm de Constantinopla, por volta do século XI. Nesta época, este movimento ganhou a Sérvia, a Croácia e a Bósnia; em seguida a Itália, o Sul da França, a Alemanha, a Inglaterra e a Rússia.

No início do século XIII, o bogomilo Basílio foi condenado e queimado sob a ordem do imperador bizantino Alexis. No século XIV, foram realizados dois sínodos em Constantinopla, para tentar fazer oposição aos bogomilos.

Do século XII até o fim do século XV, a Bósnia e a Herzegóvina eram a principal coluna dos bogomilos.

Houve mesmo uma "igreja bósnia", cujos fiéis eram chamados de "pravi krstjani": os verdadeiros cristãos.

Um documento datado de 1199 adverte o papa Inocêncio de que "uma importante heresia se espalhava pela Bósnia" e que um de seus príncipes já se havia convertido a ela.

Falava-se mesmo de 10.000 participantes. O papa ordenou, portanto, ao rei da Hungria e da Croácia expulsar os hereges da Bósnia e de apossar-se de seus bens.

Finalmente, uma invasão turca pôs fim de uma vez por todas à igreja bogomila da Bósnia.

A maioria dos camponeses escolheram voluntariamente o Islam.

No século XVII, entretanto, os viajantes contavam que os Muçulmanos da Bósnia não somente liam o Alcorão, mas também o Novo Testamento.

Os bogomilos tiveram uma grande influência sobre os cátaros.

Muito cedo, eles mantiveram relações, e, quando os bogomilos foram perseguidos cada vez mais violentamente, alguns dignitários fugiram para o oeste, onde eles inspiraram o catarismo em larga escala.

Um de seus representantes mais importantes foi Nicetas, que percorreu o Languedoc e reuniu um concílio próximo a Toulouse,em 1167.

Ele chegou a reunir representantes de vários grupos gnósticos do Norte e do Sul da França, e também na Lombardia e, por isso, deu energia à extensão do catarismo no século XIII.

Um dos raros escritos bogomilos que continuaram intactos é o Livro dos Segredos (Tainate Kniga, Liber secretus).

É um texto sob a forma de diálogo entre Cristo e João, que trata, entre outros assuntos, do início da criação: na origem, só existia o Deus bom. Sem forma, nem corpo. Este Deus, criou os sete céus sem limites, sem fim e nem começo.

Deste Deus de Luz proveio Satanael que, por sua vontade pessoal obstinada, criou seu próprio mundo. Assim Satã, tornou-se o anjo da morte.

"Por causa de sua arrogância", diz Cristo neste texto, "meu Pai o recriou inteiramente e retirou-lhe sua luz".

O papel do homem no decorrer deste drama original é apresentado como se segue:

"Os espíritos das trevas quiseram atirar-se no Reino da Luz. Eles chegaram até as fronteiras, mas não puderam nada empreender contra ele e então tiveram que ser punidos. Mas o Reino da Luz é constituído apenas pelo Bem; portanto, somente o Bem poderia punir os demônios das trevas. Para puni-los, os espíritos do Reino da Luz tomaram uma parte de seu próprio reino e o misturaram com as trevas. Assim, uma semente penetrou no Reino das Trevas e aí desencadeou-se um turbilhão no qual a morte foi capturada e onde ela recebeu o germe de seu próprio aniquilamento. Lentamente ela começou a consumir-se. Ao mesmo tempo, surgiu a raça humana, sendo que o homem original proveio do Reino da Luz e já estava ansioso para misturar-se às trevas para um dia triunfar sobre elas."

Agora que, no século XX, o mal novamente está sendo levado ao extremo, muitos, instruídos pela experiência e atormentados por seu coração, são apanhados por um novo desenvolvimento.

A mensagem dos bogomilos é muito antiga, mas, no entanto, continua bastante atual.

O archote da doutrina gnóstica retomado pelos cátaros, hoje é transmitido aos rosa-cruzes.

Estes já não podem retirar-se em pequenas comunidades,mas devem demonstrar sua doutrina por palavras e atos, no meio de um mundo febril e superpopuloso.

A Gnosis novamente se expande.

O socorro divino manifesta-se atualmente para o mundo e para a humanidade, especificado por um número crescente de cabeças, corações e mãos humanas.

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