quarta-feira, 8 de abril de 2015

Visão, Meditação e Ação

Um caminho completo tem de ter visão, meditação e ação. Por favor, tomem nota disto, isto é muito importante.
Percebi que no Ocidente há muitos métodos sem qualquer visão. Parece ser toda uma pletora de métodos, várias meditações, música da Nova Era, re-nascimento, re-morte…
Lembrem-se, estes são bons como métodos. Não estou criticando o método em si, mas vocês têm de ter uma visão. Se não tiverem uma visão, ele não os conduzirá a muitos lugares; pode curar alguns ferimentos ou temporariamente matar a dor com algum analgésico.
A visão é muito importante. A visão determina a meditação e a ação.
Então, como obtemos esta visão? Através do estudo. E através da investigação daquilo que estudamos.
Isto é algo realmente extraordinário sobre o caminho que o Buda Shakyamuni ensinou. Ele nos deu a liberdade de questionar. Vocês podem perguntar questões, podem argumentar, podem analisar dentro de sua capacidade de lógica e de senso comum. Então, devem estudar e finalizar a visão, e baseados nisso, vocês obtêm confiança no caminho. Então, vocês escolhem muitos métodos.
Neste ponto, poderíamos dizer que a nossa visão é ter renúncia. O que queremos dizer com renúncia? Quando assistimos um filme, isso é uma renúncia genuína.
Por quê? Porque conforme assistimos o filme, apesar de todos os tipos de coisas acontecerem na tela, sabemos que é apenas um filme, é tudo de mentira.
Pode haver relacionamentos amorosos, ou suspense; podemos até mesmo ser levados às lágrimas, mas em algum lugar dentro de nossa mente, sabemos que isto é apenas um filme.

Quando sentimos vontade de ir ao toalete durante o filme, por exemplo, podemos ter a coragem de levantar e ir. Não é uma grande coisa, não estamos realmente presos. É por isso que chamamos isto de renúncia, temos a visão correta quanto a isto.
Já que sabemos do aspecto fútil da vida, há uma renúncia genuína.

Por outro lado, neste grande filme que chamamos de nossas vidas, poucos de nós temos este tipo de coragem.
Claro que a renúncia não significa que, já que percebemos que isto é um filme, devemos sair do cinema e fazer um grande voto de nunca mais assistirmos um filme novamente.
Simplesmente perceber que isto é um filme mudou toda a nossa atitude diante dele. Não temos de parar de assistir. Podemos ainda assistir, mas agora, por causa deste conhecimento, não nos prendemos; ele não se tornou uma grande coisa. Esse é um tipo de pequena iluminação.
Isto é o que precisamos, mas perceber que isto é um filme é bem difícil.
Nós sempre ficamos paralisados. Sempre terminamos pensando que é real.
E quando nos sentamos aqui, totalmente absortos no filme, rindo, chorando, completamente perdidos nele, de alguma forma, por causa de nosso bom karma, por causa de nosso mérito, a pessoa ao nosso lado nos dá um tapinha no ombro e diz, “Não se preocupe. É apenas um filme”. Essa pessoa é o nosso professor.
Ter essa oportunidade de sentar próximo de alguém que realmente tem a sabedoria e a bondade de nos dizer isto, é muito difícil também.
Precisamos ter muito mérito. Por exemplo, assim que esta pessoa nos diz que isto é apenas um filme, a pessoa atrás de nós poderia tossir, e então podemos perder a oportunidade de ouvir isto. Coisas assim acontecem todo o tempo. Isso é simplesmente falta de mérito.Obtemos este mérito através da lembrança da visão, de novo e de novo; através de lembrança de verificar em quais destas oito armadilhas estamos caindo; através de todos os tipos de meditações diferentes.
Então, agora eu diria, entender o aspecto fútil de nossa vida é a visão.
Então, torna-se realmente divertido. Assistir um filme, sabendo que é um filme, e ainda experienciando toda a emoção, é divertido. Porque temos controle. A qualquer hora que não tenhamos controle, a qualquer hora que algum outro tiver o controle, não é divertido. Nesta hora temos o controle. Sabemos que é de mentira.
Bem agora, em nossa vida diária, não temos controle, não temos divertimento.
Pensamos que tudo o que está acontecendo também é verdade.
Mas sempre temos uma expectativa, temos esperanças e medos. E esses nos levam a desapontamentos. E até mesmo se acontecer de conseguirmos o que esperamos, então a expectativa não pára. Ele se multiplica. Agora, as expectativas são reforçadas, obtivemos o que queríamos, então esperamos mais, temos até mais expectativas.
Quando acordamos, por exemplo, verificamos: “Estamos em boa condição? Estamos felizes? Estamos bem?” Estamos bem, estamos felizes, estamos bem.
Então, formamos uma expectativa sábia: “Isto não durará, isto nunca durou antes, isto mudará”. E efetivamente a nossa felicidade durará mais por causa disso. E então, quando estivermos atravessando dificuldades, quando tivermos todos estes problemas, todas estas dores de cabeça, pensamos: “Isto não durará. Muitas vezes tive problemas no passado, mas eu os atravessei, eles não duraram, e isto será o mesmo”.
Todos têm isto. Os problemas presentes, os problemas que estamos atravessando bem agora, são os maiores problemas, não são? E pensamos que estes serão nossos problemas definitivos e de mais longa duração, mas isso não é verdade. Os problemas que tivemos há cinco anos atrás não são nada se comparados aos que temos agora, e em cinco anos, os problemas de hoje serão insignificantes.
Penso que é bom apreciar a nossa existência. Enquanto estivermos assistindo o filme, enquanto estivermos passando pelas nossas vidas diárias neste mundo, é bom ter apreciação. Podemos desenvolver a apreciação de nos sentarmos bem aqui neste mesmo minuto.
Meditação é gom em tibetano. Realmente, significa acostumar-se com algo.
A meditação é acostumar-se com algo. Agora, há a meditação shamatha que muitos, muitos mestres nos aconselharam a fazer. Concordo com isso porque o shamatha assenta a fundação.
A meditação shamatha é simplesmente fazer nossa mente ser trabalhável, flexível. Bem agora, nossa mente é como um pedaço de madeira, rígido. Shamatha faz nossa mente ser flexível, de modo que possamos fazer o que quer que gostemos.
Bem agora, digamos que vocês estão raivosos. Agora, se eu pedisse que vocês, por favor, parassem de estar raivosos, vocês não podem.
Ou, se eu pedisse que vocês ficassem com raiva bem agora, vocês também não podem. Por quê? Porque não temos controle nobre nossa mente. Algo tem de vir de uma cerca causa e condição têm de estar lá, e apenas então podemos mudar nossa raiva. Não temos controle sobre ela. Shamatha nos dá esse controle, essa flexibilidade.
Poderíamos chamar isto de “meditação na ação”. Penso que isto é uma prática bem importante, mas às vezes também é bem difícil. Por quê? Novamente, o velho culpado, nossas expectativas.
Se olharmos para elas, até mesmo o modo como andamos é baseado em expectativas.
Temos um certo jeito de andar, de modo que sejamos louvados, de modo que não sejamos criticados, de modo que ganhemos algo, de modo que não percamos algo, de modo que consigamos atrações, de modo que não sejamos ignorados.
Tudo, o modo como caminhamos, o penteado que temos, a camiseta que colocamos nesta manhã… Fazemos isto por causa da expectativa. Não há autenticidade. E quanto não há autenticidade, nos tornamos bem fracos de novo. Nos tornamos vítimas de nossas próprias expectativas e das dos outros.
Dzongsar Khyentse Rinpoche

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial