sexta-feira, 17 de maio de 2013

Master Maria Madalena




É fato que, em nossos dias, Maria Madalena encontra-se novamente em cena, e sem dúvida ligada ao vir-a-ser da consciência do pesquisador. Sua imagem como esposa às vezes amada, do Mestre Jesus leva a uma dupla relação: a de instrutor-aluno e a de afeição recíproca e de um amor superior pelo aspirante ou vice-versa. Se bem que a literatura somente relate a eventual aventura, exterior e material, entre Maria Madalena e Jesus, o leitor atento percebe instantaneamente a linguagem e as imagens simbólicas assim como seu profundo significado.

Ela é, por assim dizer, o protótipo de todos os que procuram o caminho. Ela é uma alma cujo triplo princípio original despertou o coração para a luz, o amor e a vida. Esse princípio é conhecido, no puro cristianismo, como a tríplice fórmula do fogo: Pai, Filho e Espírito Santo.

Maria Madalena, assim como Jesus, nos indica a noção de alma.

Ela representa a alma sedenta que aspira com toda sua pureza e ardor; o outro Jesus representa a alma da origem, a alma que pertence a um mundo inviolado, incorruptível.

Qual é, portanto, para nosso tempo, a mensagem dessa figura fascinante, Maria Madalena? Trata-se da relação de Maria Madalena com Jesus. Suas núpcias foram celebradas verdadeiramente? Uma citação dos atos de João nos esclarece.

Todo homem pode celebrar núpcias muito especiais. Nas diferentes religiões, os mistérios fazem referência às “núpcias sagradas”. É a união interior da alma, a noiva, com o divino outro, o amado divino.

Em nossos dias, essa sabedoria dos mistérios nos confunde, incitando-nos a dar um novo passo no desenvolvimento da consciência.

No Evangelho gnóstico segundo Filipe Evangelho descoberto em Nag Hammadi lemos o seguinte:

“Grande é o mistério das núpcias, pois sem núpcias sagradas o mundo não poderia existir.  A manutenção do mundo repousa sobre o homem. A manutenção do homem repousa sobre as núpcias sagradas. Aprendei todavia o que significa uma pura e santa comunidade, pois grande é sua força”.

Segundo Filipe, a câmara de núpcias é uma metáfora que designa a unificação, em cada homem e em cada mulher, do espírito divino (aspecto masculino) com a alma humana (aspecto feminino).

A relação de Jesus com Maria Madalena simboliza essa ligação.

Disso nasce acompletude, a união das polaridades.

Maria Madalena é o símbolo da alma que percorre o caminho.

Ela encontra o Salvador, segue seu caminho e apóia-se nele.

Tal é a meta final do ser humano: as núpcias sagradas.

A figura de Maria Madalena surgiu da tradição cristã, enquanto o Islã conhece, entre outros, o amor de Majnun por Laila.

Numerosos mestres sufis viveram esse amor como caminho interior.

No judaísmo, o Cântico de Salomão inicia-se com estas palavras: “Que ele me beije com os beijos de sua boca; pois seu amor é mais suave do que o vinho” (Cântico dos Cânticos 1,2). 


A Cabala (a mística judaica) conhece os segredos das núpcias santas. As emanações divinas vertem da árvore dos Sefirotes. E elas se incorporam no ser humano que preparou a alma como uma noiva. Elas são “o amor mais suave que o vinho”.

Esse conceito está onipresente no pensamento gnóstico.

Gnosis significa compreensão no sentido de um vir-a-ser superior da consciência. Nossa verdadeira identidade revela-se graças ao flamejar de uma luz interior que nos abre caminho para a imagem original divina.

O Evangelho segundo Filipe diz ainda “O senhor amou Maria Madalena mais do que todos os discípulos e a beijava com frequência na boca”.

Mestre Jesus dizia que Maria Madalena, tal como uma “vidente”, percebia a Luz.

Por detrás da imagem de Maria Madalena age o arquétipo da alma humana. O aspecto feminino corruptível é transformado em aspecto feminino eterno. Esse desenvolvimento se completa no ser interior. “Sede vigilantes para que ninguém vos engane com as palavras ‘vede aqui ou vede acolá’, pois o filho do Homem está no mais recôndito de vós. Segui-o!”, indica o Evangelho segundo Maria.

Maria Madalena era uma grande iniciada porque o ser divino havia nascido nela.

No Diálogo do Salvador, um escrito cristão dos primeiros séculos encontrado em Nag Hammadi, ela exprime-se como uma mulher que conhece tudo.

Ela estabeleceu a relação entre o cosmo e o início de um caminho libertador.

Maria disse: “Assim, é para a corrupção de cada dia” e “o trabalhador que merece seu alimento” e ainda “Que o discípulo assemelhe-se ao seu mestre”.

Essas palavras, ela as pronuncia como uma mulher que conhece o Todo. Os discípulos lhe perguntam: “O que é o Pleroma e qual é a diferença?” Ela lhes responde

“Vós saístes do Pleroma e permaneceis no lugar da deficiência. E eis que Sua Luz expandiu-se sobre mim”. (…) Judas diz: “Dize-me, Senhor, qual é o começo do caminho?” Ele responde: “Amor e bondade. Se um desses dois tivesse existido nos Arcontes, nenhuma corrupção jamais teria acontecido.”

No evangelho Pistis Sophia, Mestre Jesus lhe diz: Maria Madalena, ó abençoada, tu herdarás todo o reino da Luz




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