terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

No Túmulo de Christian Rosenkreutz - Fernando Pessoa




I
Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Essa queda até corpo, essa descida
Até à noite que nos a Alma obstrui,

Conheceremos pois toda a escondida
Verdade do que é tudo que há ou flui?
Não: nem na Alma livre é conhecida…
Nem Deus, que nos criou, em Si a inclui

Deus é o Homem de outro Deus maior:
Adam Supremo, também teve Queda;
Também, como foi nosso Criador,
Foi criado, e a Verdade lhe morreu…
De Além o Abismo, Sprito Seu, Lha veda;
Aquém não há no Mundo, Corpo Seu.
II
Mas antes era o Verbo, aqui perdido
Quando a Infinita Luz, já apagada,
Do Caos, chão do Ser, foi levantada
Em Sombra, e o Verbo ausente escurecido.

Mas se a Alma sente a sua forma errada,
Em si que é Sombra, vê enfim luzido
O Verbo deste Mundo, humano e ungido,
Rosa Perfeita, em Deus crucificada.

Então, senhores do limiar dos Céus,
Podemos ir buscar além de Deus
O Segredo do Mestre e o Bem profundo;
Não só de aqui, mas já de nós, despertos,
No sangue actual de Cristo enfim libertos
Do a Deus que morre a geração do Mundo.

III
Ah, mas aqui, onde irreais erramos,
Dormimos o que somos, e a verdade,
Inda que enfim em sonhos a vejamos,
Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.

Sombras buscando corpos, se os achamos
Como sentir a sua realidade?
Com mãos de sombra, Sombras, que tocamos?
Nosso toque é ausência e vacuidade.

Quem desta Alma fechada nos liberta?
Sem ver, ouvimos para além da sala
De ser: mas como, aqui, a porta aberta?
…………………………………
Calmo na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Rosaecruz conhece e cala.”


Fernando Pessoa

Santo Graal - Cátaros -Caminho


Certamente conheceis a lenda do Santo Graal. Esta antiga lenda conta que o Graal é a taça utilizada pelo Mestre Jesus, o Salvador, por ocasião da Santa Ceia. Diz a lenda que nela José de Arimatéia recolheu o sangue do crucificado e, em seguida, tomou o Graal sob sua proteção.
Mais tarde, seus sucessores transportaram o Graal para o Ocidente, onde se encontra, até o presente momento, guardado em local oculto.
A busca do Graal é um tema sempre atual. É um símbolo universal da busca da verdade: a verdade eterna que se apresenta quando o ser humano alcança o limite de suas possibilidades.
Foi assim na Idade Média, e continua assim ainda hoje. Mas nesse meio tempo, a humanidade, e cada indivíduo, evoluiu. Para o bem ou para o mal, para o alto, para uma elevação ao Espírito divino, ou para baixo, descendo sempre mais no abismo da matéria.
As lendas bem conhecidas do Graal só dão uma pequena idéia da imensa influência da mensagem que transmitiam. Elas apresentavam um caminho espiritual que conservou toda a sua importância para o homem de hoje.
A fonte dessa mensagem é a Gnosis, a verdade universal, percebida e transmitida sob a forma de uma vida concreta e regeneradora.
A busca do Graal não é, portanto, uma ficção, e muito menos o relato dos acontecimentos sobre os quais podemos discutir científica ou filosoficamente.
Trata-se de uma prática de vida adotada de forma direta e radical pelo buscador no caminho para a verdade vivente. Para conceber um pouco a grandiosidade desse impulso, ao mesmo tempo secular e tão atual, este caminho deve compreender a mensagem libertadora oculta em cada feito heróico dos cavaleiros do passado.
Esses acontecimentos apresentam dois aspectos, duas dimensões: por um lado, um aspecto humano transmitido pelas aventuras pitorescas dos cavaleiros; por outro lado, a dimensão divina alcançada após a execução desses atos heróicos.
O aspecto humano aparece diretamente na luta contra o orgulho, a tolice e o escândalo da ignorância com referência à vida superior.
Estes são os inimigos característicos daqueles que partem em busca interior do Castelo do Graal.
Parsifal consegue vencer seus adversários com o auxílio da força interior que lhe é sempre concedida. Mas, apesar de sua coragem e de sua genialidade, ele ainda não pode encontrar a Luz.
Ele é levado pela inquietude e pela agitação provocadas por seu desejo do Graal. Mas sua vitória sobre o Cavaleiro Vermelho lhe dá o poder de penetrar no castelo do rei Artur. Podemos considerar o Cavaleiro Vermelho como a alma natural, inteiramente devotada à vida terrestre.
Para o buscador autêntico, ela é o primeiro obstáculo a ser superado se ele quer alcançar a vida superior da alma. Seu caráter e o meio no qual ele vive, portanto sua herança sanguínea, são igualmente obstáculos a serem vencidos, o que implica num processo de purificação da alma que se prepara para o encontro com o Espírito.
Os celtas estão na origem das lendas do Graal na Europa. Eles não tinham uma verdadeira estrutura estatal, mas formavam uma sociedade dirigida pelos druidas, que transmitiam seu ensinamento ao povo sob a forma de contos ou de cantos.
A Távola Redonda continua atual. Quem não se senteria tocado pela nobreza, valentia e tragédia dessa maravilhosa história? "Eram heróis, Artur, Lancelot, Parsifal e Galaad. E estão vivos ainda hoje!"
Há séculos o homem é criado com a idéia de que o verdadeiro herói é um personagem exterior a ele mesmo, de modo que, depois de uma história tão bonita, ele retorna tranqüilamente à mediocridade de sua vida cotidiana: comer, beber, dormir...
E a mensagem do Graal em tudo isso? Apesar de tudo, ela ressoa em cada passagem da nobre lenda. É a própria história da vida. Todos os acontecimentos dessa lenda representam a busca dos ideais, assim como os esforços, os desalentos, as descobertas e as decepções da vida.
O que buscamos em nossos dias com nossas máquinas ultra-rápidas, nossos aparelhos sofisticados e os produtos sintéticos? São empreitadas muito parecidas com as dos cavaleiros que estavam em busca do Graal.
Alguns querem alcançar um ideal elevado e ajudar o próximo; outros querem conseguir um domínio absoluto sobre a natureza ou sobre os povos. Assim, cada um traz, em si mesmo, os diferentes aspectos da busca: em cada um se esconde o rei Artur.
Um bom rei não é um tirano, porém assume conscientemente a responsabilidade de todas as vidas confiadas à sua direção. Portanto, ele não se aproveita de seus súditos para alcançar seus próprios objetivos; ele não os explora. Na qualidade de verdadeiro cavaleiro, ele não luta em interesse próprio. Mas será que ainda existem cavaleiros como esses?
Quem ainda pode ouvir a voz interior, sua consciência, por ela será inspirado a seguir o caminho correto.
No entanto, para ouvi-la, é preciso calma e silêncio interiores. Ora, é escutando essa voz que o cavaleiro andante pode descobrir e ver claramente qual é a verdadeira finalidade de sua vida e, por fim, alcançá-la.
Esta lenda, que é profanada de todas as maneiras possíveis por especulações emocionais, e que serviu de tema, na Idade Média, para diversas obras poéticas por parte dos imitadores místicos, em sua simplicidade nos dá plenamente os valores gnósticos de que necessitamos para compreender o que é o Graal, como deverá ser edificado ou onde poderemos encontrá-lo.
Para penetrar neste mistério, chamamos primeiramente vossa atenção para tudo o que já foi considerado na narrativa do Evangelho sobre o envio de Pedro e João para a preparação da Santa Ceia. É o próprio aluno quem terá de preparar o Graal para que ele possa, em seguida, ser utilizado pelo Mestre Jesus, o Cristo.
Os cátaros no caminho do Santo Graal, o aparecimento dos cátaros nas regiões mediterrâneas coincide com o apogeu das lendas do Graal na Europa. Na corte dos nobres, os trovadores contavam a epopéia do Graal e interpretavam cantos místicos que falavam do Amor divino.

Os cátaros não se contentaram em permanecer como espectadores desse fenômeno. Eles buscaram o Graal dedicando-se, diariamente, à pureza e à coragem.
Em 950 d.C., os bogomilos vindos da Bulgária trouxeram ao Ocidente o autêntico ensinamento gnóstico e cristão de Mani.
Após o ano 1000, os cátaros retomaram a chama do ensinamento cristão da libertação e, num curto espaço de tempo, desenvolveu-se um grande movimento que influenciou todo o Ocidente.
No fim do século XII, quase toda a Europa conhecia a mensagem do Graal. Mas no final do século XIII que as mudanças se manifestaram. E a cratera preenchida pelas forças do Espírito, segundo expressão de Hermes Trismegisto surgiu na Europa para prodigalizar às almas amadurecidas o Amor divino libertador.
O centro do movimento cátaro encontrava-se na Occitânia, no sul da França. Lá floresceu uma cultura excepcionalmente rica. Foi principalmente no Languedoc que se cantou o amor cortês e se propagou a pura mensagem cristã dos cátaros.
Mas, bem antes deles, outros haviam encontrado proteção e salvação nessas vastas grutas com suas nascentes quentes e atmosfera tão peculiar, verdadeiros refúgios para aqueles que desejavam praticar livremente sua religião.
Graças aos desenhos encontrados nas paredes, sabemos que essa região foi habitada há 12.000 anos. As colinas e cavernas do Sabartez foram utilizadas pelos celtas e pelos druidas como lugares de culto.
Lá encontramos traços dos maniqueus, dos paulicianos e dos priscilianos,predecessores dos cátaros; aos poucos, formaram-se grupos que se diziam ligados à Gnosis e às suas correntes de sabedoria.

A palavra cátarovem do gregokatharoi que significa puro. Os cátaros diziam-se simplesmente cristãos e o povo os chamava de bons omes e bonas femnas. Mas, entre si, eles se nomeavamamici Dei ou amicz de Dieu ou ainda crezens.
O termo cátaro foi utilizado pela primeira vez nos meados do século XII por um grupo de heréticos de Colônia. Mais tarde, o termo foi empregado principalmente nos escritos oficiais. Foi a Igreja que os denominou de albigenses, dando esse nome a todos os grupos pretensamente hereges da Occitânia.
Essa denominação nada tem a ver com a cidade de Albi, no sul da França. Ela foi utilizada pela Igreja e pelos franceses do norte para designar os hereges que não eram valdenses e que habitavam no sul da França. Na Inglaterra os heréticos também eram denominados de albigenses.
Tornar-se cátaro não era algo realizado de qualquer maneira, fazendo-se batizar, por exemplo, ou passando por uma prova de admissão na comunidade religiosa.
Uma das exigências era uma longa preparação na prática de vida cristã, a exemplo do Mestre Jesus. Os cátaros diziam que um serviço formal, com rituais falsificados e degradados, não é capaz de libertar a alma de sua prisão.
Para que essa libertação aconteça, é preciso que o mistério de iniciação crística do Santo Graal seja revelado graças a um comportamento coerente e integralmente crístico.
Ao observarmos um candidato que aspira por esse caminho, poderemos perceber com que seriedade e abnegação os cátaros se consagravam ao processo de transformação interior.
O candidato que havia tomado sua decisão renunciava à vida social comum.
Ele se dedicava à endura, um processo voluntário de neutralização de tudo o que liga à vida terrestre, para permitir que a alma despertasse e crescesse.
Esse tempo de preparação durava alguns anos e ocorria nas grutas de Ussat-Ornolac, no vale do Ariège. Algumas grutas tinham a função de templos, outras de habitações. A entrada dessas habitações era, às vezes, fechada por um muro e uma porta.
Essas spoulgas (grutas) eram de difícil acesso. Até o século XIII, essas grutas estavam situadas sobre as margens de um grande lago que se estendia até Tarascon.

O candidato que se decidisse a seguir o caminho do Santo Graal devia, primeiramente, atravessar um muro simbólico. Assim ele se despedia do mundo terrestre e obtinha acesso ao mundo dos que buscam o Espírito de Deus.
Com o auxílio de outros irmãos, ele ercorria esse caminho passo a passo.Os diferentes estágios eram percorridos graças a um programa diário de jejum, de trabalho e de aprendizagem, em absoluto silêncio. Dessa forma eram-lhe ensinadas a sabedoria dos astros (astrosofia), a medicina e, principalmente, os mistérios que acompanhavam as diferentes etapas de seu desenvolvimento interior.
Para os cátaros, o caminho do Santo Graal implicava em conhecimentos libertadores e serviços aos outros. Pouco antes de o candidato ser iniciado em sua missão, ele deveria sofrer uma morte mística simbólica, após um período de quarenta dias de jejum. Ele precisava passar três dias deitado numa sepultura, na gruta denominada Kepler, para morrer para a natureza terrestre.
Desse modo, sua alma podia alcançar a libertação e, pela imitação do Mestre Jesus, pronunciar o consummatum est: tudo está consumado.
O mistério do Graal está estreitamente ligado à morte da natureza terrestre.
Mas a endura não tem, efetivamente, nada a ver com a morte do corpo físico ou com qualquer espécie de tortura ou suplício.
Na realidade, a endura era, e continua sendo, um processo que rompe todos os laços que mantém a consciência presa ao passado.
Nesse processo, o velho eu entrega-se às forças crísticas renovadoras para que a alma possa renascer.
Após ter passado três dias na grutade Kepler, o candidato era despertado pelo irmão que o acompanhava, e saía da tumba. Ele agora podia receber o consolamentum, o sacramento da consolação. Sua alma purificada estava ligada ao Espírito de Deus.
Esse grande acontecimento passava-se na gruta de Bethléem (Belém). O candidato entrava nessa gruta, que era considerada um templo, pela porta mística.
Lá, encontrava-se um altar, uma pedra de granito coberta por uma toalha de linho branco, sobre a qual havia uma Bíblia aberta na página do Evangelho de João. Num nicho da parede estava colocada a taça do Graal, encoberta por uma cortina.
No momento dessa iniciação, o nascimento do Cristo tornava-se uma experiência física. Antonin Gadal, Patriarca dos cátaros e guardião de seu tesouro, escreveu:
"Nada poderia fazer estremecer ou desviar do bom caminho o homem que renascia em Bethléem. Ninguém no mundo poderia vencer a Força misteriosa que ele representava!"
Quando o candidato havia cumprido o caminho iniciático e se tornado perfeito(parfait), ele saía do santuário pela porta mística, celebrava um ritual e dava a sua benção aos companheiros.

Depois disso, ele percorria o célebre caminho dos cátaros, que existe ainda em nossos dias: da Montanha Sagrada ele se dirigia a Montségur, onde os perfeitos, parfaits se reuniam antes de caminhar pelo mundo para levar a Luz aos seus semelhantes.
A herança dos cátaros continua atual Montségur tem a forma de um navio e está situado no cume de um rochedo.
Esse castelo foi construído num lugar onde se elevava, há muito tempo, um templo dedicado ao sol, e no qual as pessoas da época se ligavam aos mistérios de Zoroastro.



Na capela há uma abertura pela qual, no dia de São João, 24 de junho, às onze horas, um raio de sol penetra e ilumina o símbolo do Logos solar na parede oposta (Essa data corresponde aosolstício do verão no hemisfério norte).
Quando, em 1244, o exército da Inquisição forçou os que estavam refugiados no castelo a capitularem, os cátaros tiveram ainda um prazo para terminar sua tarefa espiritual.
Na véspera de subir para a fogueira, todos os que queriam defender sua fé receberam, das mãos do grão-mestre Bertrand Marti, o consolamentum, para que suas almas se unissem ao Espírito de Deus.
O misterioso tesouro dos cátaros foi ocultado nas grutas do vale do Ariège. No dia 16 de maio desse ano, duzentos e cinco homens e mulheres lançaram-se voluntariamente nas chamas da fogueira.
Conta a lenda que, enquanto caminhavam em direção à fogueira, de mãos dadas e cantando, um trovador que se encontrava entre a multidão disse: Após 700 anos o loureiro reflorirá sobre as cinzas dos mártires.
Em 1944 o patriarca da Fraternidade dos cátaros, Antonin Gadal, subiu com sete testemunhas até a montanha de Montségur e cumpriu a profecia do trovador.
Assim, verifica-se mais umavez, que os buscadores da Luz sagrada que representa o Santo Graal podem ser perseguidos, martirizados e mortos, mas que a própria Luz jamais pode ser destruída e retorna sempre ao lugar de onde ela já surgiu.
Em Albi, os perseguidores dos cátaros construíram uma catedral fortificada para mostrar que eles eram os vencedores. A catedral ainda existe e domina a cidade. Assim, fecha-se uma das mais negras páginas da história da Igreja Católica dita "cristã". O amor do Graal, que tudo perdoa, e a não combatividade absoluta dos cátaros, que dele decorre, colocaram um fim a
esses acontecimentos.
Desde então, um acontecimento tão maravilhoso quanto inesperado aconteceu em Albi, provocando um retorno espiritual que deu um novo impulso à libertação espiritual da humanidade.
A supressão do personagem histórico de Cristo. Não longe de Albi, em 1167, Nicetas, patriarca búlgaro, havia dado à Fraternidade Cátara a missão de fazer conhecer e espalhar pela Europa os mistérios da iniciação crística. Era preciso libertar a humanidade do personagem histórico (criado pela igreja de roma) de Cristo e dos dogmas a isso inerentes, pois são essas representações que sempre a impedem de ter acesso às possibilidades libertadoras que a Força crística cósmica propicia: o Graal, preenchido pela Luz que é capaz de expulsar todas as trevas das almas humanas.
A pessoa que adquire essa compreensão descobre em si uma chaga incurável e isto a impulsiona a procurar a verdade universal.
Ela não cessará de aspirar pelo renascimento de sua alma e já não dará ouvidos aos cantos de seu eu, que só deseja garantir a segurança e o poder de seu próprio mundinho.
A humanidade deve aprender novamente a fazer essa oferenda que representa o amor ao próximo e a viver do santo e maravilhoso alimento dispensado pelo Graal.
Foi erigido, em 5de maio de 1957, em Ussat-les-Bains,no vale do Ariège, um monumento que recebeu o nome de Galaad. Esse nome aparece com freqüência nas lendas do Graal. Traduzido literalmente ele significa: "O Monte do Testemunho ".
Sobre o quadrado do monumento está apoiada a pedra do altar sobre a qual o Perfeito celebrava seu primeiro ritual após sua iniciação na gruta de Belém. Este monumento simboliza os esforços contínuos para libertar a humanidade da sua prisão religiosa, esforços empreendidos pela Aliança da Luz.
Indubitavelmente, a gruta de Belém e a catedral de Lombrives, por exemplo, ainda são, atualmente, lugares especiais onde a atmosfera de pureza interior e de disponibilidade a serviço do próximo é sempre perceptível. A Catedral de Lombrives tem cerca de oitenta metros de altura. Era lá que os cátaros celebravam seus serviços. Em 1328, oitenta e quatro anos após a queda de Montségur , essa gruta foi fechada para o mundo exterior.
Talvez a mensagem do Graal seja transmitida oculta sob imagens pitorescas, mas não é um conto de fadas. Trata-se de uma realidade vivente e vibrante, mesmo para nossa época. Entretanto, não podemos descobrir essa realidade pela exaltação ou investigando o passado.
Para ter acesso a essa dimensão, é preciso seguir concretamente o processo da endura, isto é, o abandono dos desejos terrestres e a aspiração à união com o Espírito de Deus, a Gnosis, Universal.
Segundo a lei hermética; "O que está embaixo é como o que está em cima", o Graal tem um aspecto macrocósmico, um aspecto cósmico e um aspecto microcósmico. Seu aspecto macrocósmico é a manifestação universal; seu aspecto cósmico abrange a Terra como morada da humanidade e seu aspecto microcósmico tem relação com a presença da taça do Graal no próprio homem.
Cada um deve realizar esse milagre: reencontrar interiormente essa taça, purificá-la e preparála, para nela receber a força santificadora do Espírito!
Eis a razão pela qual a imagem do Graal vivente toca profundamente a consciência humana: ela reanima a alma adormecida e prisioneira da matéria.
A lembrança dessa realidade, que um dia existiu e que é continuamente apresentada à humanidade, impulsiona os seres humanos a buscar Deus.
Para a eterna pergunta: Quereis receber o Graal? só podemos dar a eterna resposta:
Só há uma única condição: desejá-lo santa e profundamente!

No Corpus Hermeticum (antigo escrito iniciático egípcio) podemos ler:
"Ele fez descer uma grande cratera, preenchida por forças do Espírito e enviou um mensageiro para anunciar aos corações dos homens: mergulhai nessa cratera, vós, almas que o podeis; vós que aguardais, com fé e confiança, vos elevar até àquele que fez descer esse vaso; vós que sabeis para que finalidade fostes criados. Todos aqueles que deram ouvidos a essa advertência e se purificaram imergindo-se nas forças do Espírito tiveram parte na Gnosis, o vivente conhecimento de Deus, e recebendo o Espírito, tornaram-se homens perfeitos."
Hermes Trismegistus.
Os textos de Mani provêm das tradições da antiga sabedoria persa; contudo, ele denominava a si mesmo Apóstolo de Jesus,o Cristo segundo a vontade de Deus.
"O Espírito da verdade veio e nos desatou da ilusão do mundo.
Ele nos entregou um espelho.
Contemplando-o, vemos nele o Universo.
Ele nos mostra que existem duas ordens:
a ordem da Luz e a ordem das trevas.
A ordem da Luz penetra a ordem das trevas.
Não obstante, a ordem das trevas está separada da Luz desde o começo..."